O termo quiet quitting, ou “demissão silenciosa” em tradução livre, surgiu originalmente para descrever profissionais que reduzem o esforço no trabalho com a intenção de serem demitidos. No entanto, o conceito ganhou uma nova aplicação no campo dos relacionamentos.
Nesse contexto, quiet quitting refere-se a quando uma das partes para de se esforçar pela relação, mesmo sem encerrar formalmente o vínculo. Segundo a psicóloga Flavia Bonani, esse “término silencioso” acontece quando o casal ainda não verbalizou o fim do relacionamento, mas ambos sabem que a continuidade é improvável.
Identificar sinais de quiet quitting em um relacionamento pode ser desafiador, mas entender esses comportamentos é essencial para buscar soluções ou aceitar o encerramento. A seguir, vamos explorar como reconhecer essa situação e os caminhos para lidar com ela.
O que é quiet quitting nos relacionamentos?
Na relação amorosa, o quiet quitting é quando um dos lados começa a desistir de forma silenciosa. A psicóloga Paloma Gomes define a prática dessa maneira, seguindo a tradução do termo para o português. “Você segue ali ou não faz nem o mínimo, não faz uma manutenção no relacionamento, não tem interesse no seu parceiro, já não quer mais estar naquela posição, mas também não sabe como sair dela”, disse.
Dar o primeiro passo em direção ao término não costuma ser uma prioridade para quem entra no efeito do término silencioso. “Existe uma mítica em torno da pessoa que termina, que sai da relação sem créditos, que no caso de se arrepender tem que correr atrás, que sai como vilã”, justificou a psicóloga Caroline Busarello.
E isso é extremamente comum! Muitos indivíduos não querem sair do relacionamento com da reação do outro, não querendo ser culpado pelo mal-estar da parceria. “Elas não percebem isso, vejo muito no consultório. Há uma preocupação com o julgamento”, completou Caroline.
Quais são os principais motivos para aderir ao quieting?
Segundo os especialistas, as razões pelas quais as pessoas seguem o caminho do quiet quitting nem sempre são claros. Um dos principais pontos está relacionado ao distanciamento entre o casal, já que também pode ser preciso de um certo tempo para que comece a entender o motivo desse movimento.
“Pode ser porque ela tenha dificuldade de comunicação, ou porque costuma evitar situações de conflitos, ou porque tenha uma característica mais passiva-agressiva e fica emburrada porque o outro não fez o que ela queria… E muitas pessoas têm dificuldades com tolerância e frustração acabam adotando o quiet quitting. São pessoas que, muitas vezes, não sabem lidar com o ato de consertar, dialogar, compreender, chegar no meio termo, cede. É o segredo das relações bem-sucedidas, estar sempre querendo saber como o outro está, se ele está bem ou não, se precisa de mais ou menos”.
Paloma Gomes foi um pouco além e ressaltou que pode ser uma série de comportamentos.
“Pode ser fuga, culpa, comodismo ou tudo isso junto e um pouco mais. Normalmente, as pessoas que optam por essa desistência da relação querem evitar algum tipo de confronto, não querem ser culpadas por magoar ou chatear o outro, então vão evitando se envolver numa discussão”.
E segundo ela, esse comodismo costuma estar fortemente ligado aos relacionamentos duradouros.
“A pessoa já está acostumada com aquela relação, ou já tem uma família estruturada, vai mantendo a situação do jeito que está e se a outra parte não quiser, ela que termine”.
Quais são os sinais do quiet quitting?
Assim como tudo na relação, é possível identificar os sinais de que estão caminhando para um afastamento, mas sem términos. Profissionais da psicologia apontam que as pistas mais notáveis são:
- Quando uma pessoa não quer falar sobre a relação;
- Um dos lados, ou ambos, nunca estão dispostos a sair da rotina como casal;
- Falta energia para fazer as coisas;
- O casal não mostra interesse na vida ou conquistas um do outro;
- Falta diálogo;
- Poucas atividades a dois;
- Uma das partes começa a ser monossilábica, está sempre “tanto faz, tudo bem”.
Diante de qualquer sinal listado acima, Paloma alerta sobre o trabalho mental que é envolvido para decifrar o que está acontecendo com a parceria: “Porque o outro não está comunicando. Se você já sente que precisa tentar entender o que está acontecendo, sem que o outro diga, você está tendo um trabalho mental extra. Já é um sinal de alerta”.
Como reverter o quiet quitting?
O principal caminho, de acordo com psicólogos, é o diálogo. O problema é que, por mais que um dos lados esteja disponível para conversar, o outro está correndo de forma silenciosa. “Essa é uma fase muito difícil. A pessoa escolhe não conversar comigo, não trocar coisas comigo, não me explicar o que está acontecendo e não tentar se comunicar. Mas essa também é uma forma de se comunicar”, disse Carol.
1. Seja honesto consigo e com a parceria
Essa é uma dica dos profissionais! Diga o que vem percebendo, como está se sentindo sozinha e desamparada na relação, que deseja ser ouvida. Diga algo como “eu percebo que você já não faz mais isso, que não tem interesse em planejar coisas comigo”.
2. Tente não soar defensivo ou acusatório
Uma boa dica é começar a conversa usando frases diretas, como “tenho a impressão de que a gente está distante, você sente isso também?”. Não acuse de algo ou não aja de forma defensiva, podendo pesar o clima.
3. Seja objetiva sem ser grossa
É importante saber ir direto, mas sem soar grosseira. Dá para falar “poxa, não gosto quando me vejo numa situação em que sinto que, de alguma forma, estou tentando resgatar a nossa essência, a nossa relação, e parece que estou sozinha”.
4. Não conteste se for contrariada
Caso a pessoa negue tudo o que você disse, que é exagero de sua parte, diga alguma coisa leve como “então tudo bem, eu só queria que você soubesse como estou me sentindo”. Você não estará errada quando fala como está se sentindo, o outro pode não concordar com isso, mas todo mundo tem o direito de se expressar de modo afetivo.
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Fontes: Gshow; Abril; Adote um Cara; UOL; Metrópoles