Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre limerência, mas sabe bem do que se trata. Bom, esse termo é utilizado para descrever o desejo obsessivo de uma pessoa por outra. É quando você fica fixado demais a ponto de sofrer, ter o sono perdido e esperar, diariamente, ser notado como gostaria.
É claro que essa obsessão traz grandes problemas e por isso precisamos saber como lidar. Confira a seguir o que preparamos para te ajudar a encarar tal situação.
- Leia também: Ansiedade sexual: o que é e como superá-la?
O que é e como se caracteriza a limerência?
A limerência é um estado emocional intenso e muitas vezes obsessivo que se caracteriza por um forte desejo de reciprocidade afetiva, idealização da pessoa amada, pensamentos constantes e intrusivos sobre ela, oscilações emocionais baseadas em pequenas interações e um medo profundo de rejeição.
É comum no início das paixões e se distingue do amor maduro por ser mais impulsiva, fantasiosa e instável.
Estágios da limerência
1. Paixão
A limerência geralmente se manifesta justamente na paixão, que é o primeiro estágio do amor romântico. É nesse começo que tudo é mais intenso, idealizado e emocionalmente instável. A pessoa sente borboletas no estômago, vive à espera de sinais de reciprocidade, interpreta cada olhar ou mensagem como algo grandioso, e coloca o outro num pedestal.
É um momento de encantamento, em que a razão muitas vezes fica em segundo plano. Esse estágio limerente pode ser delicioso, mas também vulnerável, pois a felicidade parece depender da resposta do outro.
Com o tempo, e caso a relação se desenvolva de forma saudável, a limerência costuma dar lugar a uma conexão mais sólida, baseada em confiança, intimidade e aceitação da realidade do outro, com suas qualidades e imperfeições. Assim, a limerência pode ser o começo de um amor verdadeiro, mas por si só ainda não é o amor em sua forma madura.
- Leia também: Qual é a diferença entre o amor e a paixão?
2. Cristalização
A fase de cristalização da limerência é o momento em que o encantamento inicial se intensifica e a pessoa amada passa a ser fortemente idealizada. Nessa etapa, o apaixonado projeta qualidades extraordinárias no outro, enxergando-o como perfeito ou especial de forma exagerada.
Cada gesto é supervalorizado, os defeitos são ignorados ou romantizados, e há um mergulho profundo na fantasia de estar amando alguém único. É uma fase marcada por emoção intensa, expectativa e pouca conexão com a realidade, funcionando como uma espécie de “revestimento mental” que transforma o objeto de desejo em algo quase mágico.
3. Deterioração
A etapa da deterioração é o momento em que a imagem idealizada construída na fase da cristalização começa a desmoronar. A pessoa apaixonada começa a enxergar o outro de forma mais realista; os defeitos se tornam evidentes, as expectativas não são mais atendidas, e a fantasia perde força. O que antes era encantamento vira frustração, dúvida ou até decepção.
Nesse ponto, a limerência enfraquece! Os pensamentos obsessivos diminuem ou se tornam carregados de ambivalência. Pode surgir um sentimento de vazio, desilusão ou até vergonha por ter idealizado tanto. A deterioração não significa necessariamente o fim do relacionamento, mas marca uma quebra da ilusão. É aqui que o vínculo tem a chance de amadurecer, se houver conexão verdadeira, ou se romper, caso a paixão tenha se sustentado apenas na fantasia.
Essa etapa é dolorosa, mas também reveladora. É nela que se decide se há espaço para um amor real, baseado em quem o outro realmente é, ou se o que existia era apenas uma projeção emocional que perdeu o brilho com o tempo.
- Leia também: TOC de relacionamento: conheça esse transtorno
Quais são os sinais da limerência?
1. Pensamentos constantes sobre a pessoa
Você pensa nela o tempo todo, mesmo sem querer. É como se a mente não conseguisse descansar; ela aparece nos seus devaneios, nas suas decisões, até nos momentos mais banais do dia.
2. Idealização exagerada
Você enxerga a pessoa quase como perfeita. Pequenos gestos parecem incríveis, e os defeitos são ignorados ou até vistos como fofos. Ela vira um tipo de personagem idealizado na sua cabeça.
3. Desejo intenso de reciprocidade
Mais do que gostar, você precisa desesperadamente saber se está sendo correspondido. Cada resposta, curtida ou olhar é analisado como um possível sinal de que ela também sente algo.
4. Oscilações emocionais
Seu humor varia conforme o comportamento do outro. Se ela responde rápido, você se enche de alegria. Se demora ou parece indiferente, vem a ansiedade, tristeza ou até raiva.
5. Medo de rejeição
A ideia de ser rejeitado é quase insuportável. Você pode se pegar evitando se abrir por medo de estragar tudo, mesmo que isso te deixe angustiado por dentro.
6. Foco exagerado em sinais e interpretações
Você analisa tudo que a pessoa faz, como o jeito que falou, o que postou, como te olhou. Pequenos detalhes viram grandes interpretações e alimentam ainda mais seus sentimentos.
7. Desejo de proximidade constante
Você quer estar perto, conversar o tempo todo, saber como ela está, o que está fazendo. Mesmo sem intimidade real ainda, já sente uma conexão enorme e quer estreitar laços o mais rápido possível.
8. Dificuldade de enxergar a realidade
Mesmo que a situação não seja tão promissora, você mantém a esperança, às vezes contra todas as evidências. Existe uma dificuldade em aceitar que o outro talvez não sinta o mesmo ou não seja como você idealizou.
Quais são os impactos da limerência?
A limerência pode ser uma fase mágica, cheia de emoção e esperança, mas também traz alguns impactos delicados. Quando o sentimento é muito intenso, a pessoa passa a viver em função do outro, analisando cada gesto, esperando sinais de reciprocidade e sofrendo com qualquer indiferença. Isso gera ansiedade, oscilações de humor e até atrapalha a rotina, o pensamento não desliga, o coração vive em alerta.
Além disso, há uma idealização forte. O outro é visto quase como perfeito, e isso pode distorcer a realidade. Quando essa imagem começa a cair, vem a frustração. Em alguns casos, a limerência vira dependência emocional, fazendo com que o bem-estar dependa totalmente da resposta do outro.
Por isso, apesar de ser uma fase comum no início da paixão, é importante observar os limites e cuidar da própria saúde emocional para que o encantamento não vire sofrimento.
Como tratar a limerência?
Tratar a limerência começa com o reconhecimento de que o sentimento, por mais intenso que seja, nem sempre é amor real; muitas vezes, é uma idealização movida pela necessidade de ser correspondido. O passo seguinte é voltar o olhar para si: resgatar interesses, vínculos e atividades que te façam bem, ajudando a diminuir a dependência emocional.
Buscar apoio psicológico pode ser essencial para entender os padrões que alimentam essa fixação e fortalecer a autoestima. Conversar com pessoas de confiança também ajuda a trazer mais clareza e acolhimento.
Com o tempo e cuidado, a imagem idealizada vai perdendo força, e o vínculo com a realidade, e consigo mesmo, se fortalece. Limerência passa, e o que fica pode ser uma forma mais consciente e saudável de amar.
Qual a diferença entre a limerência e o amor?
A limerência é como uma tempestade emocional. Intensa, cheia de expectativas e alimentada pela idealização do outro. A pessoa vive em um estado de encantamento quase obsessivo, querendo sinais de reciprocidade o tempo todo, analisando cada palavra, cada gesto, como se tudo tivesse um grande significado.
É um sentimento que pulsa forte, mas é frágil, porque muitas vezes não se baseia no que o outro realmente é, e sim no que se projeta sobre ele. Já o amor, especialmente o amor maduro, é mais calmo, firme e profundo.
Ele surge com o tempo, quando se conhece o outro de verdade, com suas imperfeições, limites e vulnerabilidades e mesmo assim se escolhe continuar. O amor não depende de respostas imediatas, não exige validação a todo momento. Ele se constrói no cotidiano, com respeito, cuidado mútuo e presença sincera.
Enquanto a limerência é movida pela ânsia de ser amado, o amor se expressa na escolha consciente de amar, com paciência, generosidade e verdade. A limerência pode ser o começo de uma história, mas só o amor sustenta o que vem depois.
Fontes: BBC; Revista Galileu; Vogue; Ulme; Psicologia Online;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Tennov, D. (1979). Love and Limerence: The Experience of Being in Love. Scarborough House.
Hatfield, E., & Rapson, R. L. (1993). Love, Sex, and Intimacy: Their Psychology, Biology, and History. HarperCollins.
Fisher, H. E. (2004). Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love. Henry Holt & Co.
Berscheid, E., & Regan, P. (2005). The Psychology of Interpersonal Relationships. Pearson.